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"Quem és tu para tentares mudar as opiniões ou os comportamentos das pessoas? És só um comediante."



Estivemos à conversa com João Neves (mais conhecido como O Anónimo). O criador do XLR Ligado contou-nos um pouco sobre o seu percurso e deixa dicas para aqueles que aspiram a comediantes.


O teu podcast (XRL Ligado) já existe faz algum tempo e conta com grandes nomes como Ricardo Araújo Pereira, Guilherme Duarte, Luís Franco-Bastos, entre outros. Quais são os planos o futuro do podcast?


O XLR Ligado já vai na 2ª temporada, está a terminar agora a temporada. A 3ª vai ser dedicada ao Porto porque é, na minha opinião, a zona do país com mais comédia – e como vim para Aveiro morar, tenho estado mais próximo do Porto.


A 4ª temporada devera ser a última, porque os conteúdos são escassos. Mas a ideia será dar continuidade às conversas sobre o humor quase como uma ciência – uma conversa séria sobre a comédia (quase que parece contraditório).


Da primeira temporada para a segunda, o que mudou?


No início do podcast as conversas eram cruas, sem grandes edições e havia mais temas random do que temas pensados e estruturados. Depois foi melhorando e ficando mais parecido com o molde que eu queria: conversa sobre humor.


Tens excertos no XLR Ligado no Youtube. Esse é o teu cartão de visita ou tens pensado investir mais em conteúdos diferentes?


Eu sou um preguiçoso. No início até comecei a colocar vídeos meus a falar para a câmera, mas cometi dois erros relacionados com o facto de ser preguiçoso: não tinha regularidade e a edição dos vídeos juntamente com a minha postura em frente à câmera eram péssimos.


Portanto, nunca percebi muito bem aquilo que devia fazer no Youtube porque, devido ao facto de o podcast ter conteúdos sérios, passo uma imagem de uma pessoa séria – que não sou.


Mas claro que penso em ter conteúdos diferentes. Tenho de encontrar quem eu sou no Youtube e ser regular – essa é a chave.


Estás só dedicado à comédia?


Não. Eu estava a estudar Publicidade e Marketing na Escola Superior de Comunicação Social em Lisboa. Agora vim para Aveiro e estou a trabalhar. Um trabalho normal das 9h às 18h, e faço alguns bares no Norte.


Mas o meu objetivo é ser stand up comedian, mas requer um trabalho que, quando começas, não tens noção da dimensão.


Em Lisboa vivemos numa bolha em relação àquilo que é fazer stand up. Achava que era muito fácil de entrar na comédia, mas em Lisboa é muito difícil de fazer aquilo que alguns comediantes fazem no Norte: fazem bares 1 vez por semana e têm 2h de material – isso dá muito trabalho e é muito difícil de acontecer em Lisboa.


Claro que gostava de ser como o Rui Sinel de Cordes que faz um espetáculo por ano e vive disso. Assinava já.



O meu objetivo agora é arranjar um part-time e trabalhar 4h a montar computadores e outras 4h na comédia. Só assim é que vou começar a ter material suficiente para encarar a comédia de forma mais profissional.


No stand up, o que é mais importante: o conteúdo ou a persona?


Quando tu não és conhecido, o importante é o conteúdo – senão estás completamente tramado. Se tu vais para um bar na Guarda fazer a tua persona, o pessoal vai perguntar: quem é este gajo?


Eu tenho textos sobre a faculdade e outros sobre a minha família – noto que os universitários se interessam pelo texto da universidade, mas quase ninguém se interessa pela minha família. Não sou conhecido o suficiente para despoletar o interesse do público na minha família. Os universitários ou pessoal da minha idade interessam-se pelo texto da universidade porque lhes diz algo – conseguem relacionar-se. O conteúdo é mais importante quando não és conhecido.


Já quando és conhecido, o importante é a persona (não podes é negligenciar o conteúdo). O ideal seria conseguir ter um bocadinho dos dois, mas a fama acaba por arrastar-te para a persona.


Para ti qual o top 3 de comediantes em Portugal?


O melhor é o Joel Ricardo Santos. Ele é brilhante para qualquer público – adapta-se de uma forma incrível a qualquer casa.


Depois talvez o Hugo Sousa por tudo aquilo que fez na carreira. O Hugo consegue dar vida a um objeto com a expressão corporal – adoro a técnica dele.


Em terceiro é mais difícil, mas talvez o Rocha que é muito bom. Gosto imenso do Batáguas – é uma máquina. Manuel Cardoso, Guilherme Fonseca… é muito difícil escolher.


A nível de comediantes estrangeiros, o que consomes?


Vejo Bo Burnham, Bill Burr, admiro a entrega do Kevin Hart (não admiro o texto). Ricky Gervais é muito bom. Gosto muito das punchlines do Jeselnik. Depois consumo pessoal brasileiro, principalmente o Márcio Donato que é um comediante que está sempre chateado com tudo (parece o Bill Burr) – não tens disso em Portugal.


O Afonso Padilha escreve muito bem, apesar de não adorar a persona. Patrick Maia é muito bom em termos de texto, também.


Mas o meu favorito é o Chris D’Elia, é um comediante norte-americano e tem uma entrega incrível. Ele consegue imitar uma criança e dá-te a sensação de que estás mesmo a ver uma criança em palco, sendo que ele tem quase 2 metros de altura. Aconselho o especial Incorrigible da Netflix.


Tens sentido que o público está mais sensível?


Sim. Estamos supersensíveis – e há comediantes a contribuir para isso. Mas também tem a ver com a divulgação de conteúdos: tu divulgas algo que viste e de que gostaste e, entretanto, alcançou alguém que acha que não devias ver ou que esse conteúdo nem deveria existir. Assim, criou-se aqui uma discussão aberta que expõe esta sensibilidade.


O que me faz mais confusão é o pessoal que já me segue desde o início, ou seja, já me conhece e sabe o meu registo, e de repente deseja a minha morte porque fiz uma piada.


Como é que os comediantes estão a contribuir para isso?


Agora há uma moda de os comediantes tentarem mudar opiniões e eu pergunto: quem és tu para tentares mudar as opiniões ou comportamentos das pessoas? És só um comediante.

É que tu enquanto comediante não és ninguém na vida do teu público para lhes estares a dar uma lição – se eu quiser pensar na vida, vou ouvir ou ler um filósofo.

Mas eu compreendo: os comediantes têm de cultivar uma imagem séria senão são apenas os bobos.


Conselhos para quem quer começar a fazer stand up


São poucos os comediantes que começaram a sua carreira a pedir 5 minutos num open mic. Normalmente, começam com um curso ou um workshop de escrita humorística. Portanto o meu conselho é: faz um curso – não vais aprender nada que não possas aprender na internet, mas obriga-te a ir para o palco e estás em contacto com profissionais da comédia.

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