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Entrevista Diogo Batáguas: "Transformar a comédia em profissão dá uma trabalheira"



Quando é que percebeste que poderias transformar a comédia em profissão?


Eu tirei o curso de comunicação social e trabalhei cerca de 10 anos em duas rádios, entretanto faliram as duas e eu na altura não tinha meio de subsistência.

Apesar de já fazer stand-up amador há 3 ou 4 anos, não estava a pensar nisso propriamente como uma profissão. Porém, quando fiquei desempregado tive de escolher, tentava arranjar emprego noutra rádio ou investia tudo na comédia.

Então estive um ano com rendimentos mais escassos, mas apostei um ano a fazer mais vídeos para o Youtube de forma a conseguir aglomerar público nas redes sociais para depois quando anunciasse os espetáculos, ter pessoas nas salas. Portanto, face à necessidade tornei-me profissional da comédia desde 2017/2018.

Recordas-te da primeira piada que fizeste?


Em espetáculo de stand-up não me lembro, mas recordo que a primeira piada que fiz na minha vida foi na escola primária.

Estava na primeira ou segunda classe e pediram me para escrever uma composição e eu fiz um jornal ao jeito de “inimigo público” com notícias falseadas. A primeira notícia, neste caso a primeira piada era “Acabou a guerra em Timor porque a ilha levou um tiro e foi ao fundo”. Eu tinha 6 ou 7 anos, portanto temos de contextualizar (risos).


Diz-se que o humor tem como principal objetivo fazer rir. Na tua opinião achas que existem outros secundários? Quais?


O humor em si serve para fazer rir, no entanto podes servir-te dele para alcançares outros objetivos.

Hoje em dia, existe duas escolas, a malta que diz que o humor serve em si mesmo o objetivo de fazer rir e há outra malta que defende que o humor tem outro objetivo maior, conscientizar ou mudar o mundo de alguma forma.

Na minha opinião, as duas podem conviver, mas em primeiro lugar tens de fazer rir, se o teu objetivo for fazer o humor, porque se não estás a fazer outra coisa qualquer, és um ativista, um moralista ou um cronista. Agora, não quer dizer que não possas usar o humor para atingir outros objetivos que tenhas, por exemplo sair da esfera de meramente fazer rir para acrescentar outro objetivo que tu pretendas.


Como é que lidas quando recebes backlash de algo que disseste ou fizeste?


Na verdade, não ligo muito. Normalmente faço vídeos a gozar com as pessoas que fazem comentários depreciativos sobre mim. É a minha vingançazinha e é, também a minha maneira de me divertir com os ditos haters.

No início, ficava incomodado quando alguém me ofendia, mas aprendi que não vale a pena dedicar demasiado tempo à pessoa que está a dizer mal de ti.

No meio de 100 pessoas, 2 disseram que tu és idiota e tu vais responder aos dois que disseram que és idiota quando tens 98 a dizer que curtem de ti? É muito injusto para as pessoas que gostam de ti. Simplesmente deixei de responder a comentários negativos, porque senti que estava a desvalorizar as pessoas que gostavam de mim e estava a dar importância a quem não estava a merecer.


Diogo, uma vez que fazes parte dos novos humoristas nacionais, quem é para ti o TOP 3 de comediantes? (3 nacionais e 3 internacionais)


Sinceramente não consigo fazer um top 3 de forma justa.

O Louis C.K sempre foi o meu favorito, ainda que há uns tempos para cá, tenha estado envolvido em polémicas, mas continua a ter bastante piada. Também gosto muito do Ricky Gervais, Jimmy Jeffrey e Daniel Sloss.

Quanto aos humoristas nacionais, é fácil citar os clichês Ricardo Araújo Pereira e Bruno Nogueira porque de facto são gajos muito bons na comédia. E depois temos uma quantidade deles da geração anterior à minha, como o Rui Sinel de Cordes, Salvador Martinha, Luís Franco Bastos. Da nova geração, apesar de serem mais novos, começaram mais ou menos na mesma altura que que eu, Carlos Coutinho Vilhena, Pedro Teixeira da Mota, Manuel Cardoso, Paulo Almeida.


Qual foi a tua primeira reação ao saber que foste processado pelo juiz Neto de Moura, ao lado de sumidades como o Ricardo Araújo Pereia e Bruno Nogueira?


Fiquei todo contente porque antes, fiz uma aposta com o Guilherme Duarte, em como eu era processado e ele não (risos).

Na altura saiu uma notícia que dizia que Neto de Moura ia processar o Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, a jornalista Fernanda Câncio, entre outros nomes que se sabiam. Por outro lado, a notícia também falava que havia mais pessoal para entrar na lista, mas nós não sabíamos quem era.

Eu estava com o Guilherme Duarte e estávamos a gozar um com o outro do género “Aposto que eu sou processado e tu não” ou “Quem for processado é fixe, quem não for é porque não tem relevância necessária”. Nesse dia saiu a notícia a dizer que eu também ia ser processado e enviei logo um print ao Guilherme Duarte a dizer: “Chupa, fui processado e tu não”.


Por onde deve um aspirante a stand-up comedian começar? Circuito de bares, lançar-se diretamente no YouTube?


Para te dares a conhecer tens sempre o Youtube que é uma plataforma importante.

Transformar a comédia em profissão dá uma trabalheira e é difícil, porque tens de ter público suficiente e aí tens de te agarrar às redes sociais para construíres o teu público online. Este é um processo inverso ao que deveria ser, porque primeiro deverias ser um bom stand-up comedian e só depois ganhares público naturalmente porque és bom.

Por exemplo, se estiveres em Lisboa ou no Porto é um pouco mais fácil porque existem mais circuitos de bares e, à “cara-podre” envias uma mensagem a alguém que tu saibas que gere um bar ou que organiza noites de stand-up, normalmente estas pessoas são recetivas a novos putos que estão interessados. Desta forma é “fácil” conseguires pelo menos um pequeno open mic.

Atualmente, é muito importante tentares jogar com as duas, conseguir o teu público online ao mesmo tempo que vais trabalhando as tuas skills de palco, porque se tens público online e promoves “Venham ver o espetáculo”, mas depois és uma merda em palco, as pessoas automaticamente ficam desiludidas.


Qual é a piada mais curta que conheces?


Nesta altura, a piada mais curta que conheço é mesmo: Neto de Moura

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