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centidodehumor

Não sejas pão com manteiga, (...) porque nunca vais chegar a ser um grande prato

Atualizado: 14 de mai. de 2019



Quais foram as dificuldades que encontraste quanto decidiste dedicar-te a 100% à comédia?


Eu trabalhava na NOS e despedi-me para começar a fazer stand up. É sempre difícil deixares o teu ordenado fixo e passares a ter um que varia consoante os bares precisam de ti. Felizmente, como vivia na casa da minha mãe, não tinha contas para pagar.



Achas que a questão financeira se apresenta como um grande entrave para quem queira ingressar na comédia?


Sim. A comédia em Portugal é muito classe alta. Há poucos comediantes de classe baixa, por vários motivos, por exemplo, a comédia até dar dinheiro demora algum tempo, portanto quem tem alguma segurança financeira consegue entregar-se áquilo de uma forma diferente à de uma pessoa sem essa mesma segurança.


Eu não os culpo por terem a vida que têm, atenção. Claro que eu preferia que os meus pais tivessem tido guita do que eu ter de crescer como cresci.



O que achas desta nova onda de mensagem e moralismo dentro dos solos de stand up?


Enquanto comediante eu não quero mudar a vida de ninguém, não quero ter essa responsabilidade. No final do meu espetáculo eu tenho um momento em que é o Rúben Branco enquanto pessoa a falar e não enquanto comediante – mas isso é assumido, porque a minha profissão é fazer rir e então eu faço piadas com aquilo que eu quiser. Enquanto pessoa, eu assumo aquilo que digo – enquanto pessoa já posso transmitir a minha opinião.


Tu podes transmitir uma mensagem e seres comediante – não é isso que está em causa –, não te deves é esconder por detrás do humor para transmitires as tuas opiniões. Assim és só cobarde.



Cada vez há mais comediantes a praticar humor fácil. Qual é a tua opinião acerca disso?


Ontem estive num espetáculo para ajudar Moçambique e estava a ouvir um comediante que tem um texto sobre ser gago. Basicamente um empregado de balcão estava a gozar com ele por ser gago e ele começa a cantar uma música para o empregado onde dizia – “Tu recebes o ordenado mínimo.” -, qual é a piada disto? A tua mãe morreu, tu recebes o ordenado mínimo, a tua casa foi com o caralho, não vais ter reforma – isto não tem piada, estás a expor uma ferida. O que tem piada é se pegares nestes temas e lhes dares a volta para não ser algo declarado.


Bater de forma gratuita porque dá menos trabalho. O verdadeiro desafio é distorcer a realidade. Quando não o fazes estás a declarar o obvio e às vezes o obvio és só tu a seres estúpido.



Cada vez há mais comediantes a praticar humor negro. Achas que representam bem aquilo que é o humor negro?


Há três variantes de quem faz humor negro: o primeiro é o bad boy que diz as merdas – e há quem goste de se sentir assim. Depois tens aqueles que querem fazer humor negro como resposta à sensibilidade. Estes dois fatores são fixes, mas o último é uma merda: malta que não tem graça nenhuma e acha que o pessoal não se ri porque não entende humor negro. Isto não é nada.


Estes gajos que, mais uma vez, fazem humor gratuito estão a estragar o trabalho de gajos como o Rui Sinel de Cordes – gajos que pensam e trabalham o humor.



Não achas que quem te conhece apenas pelo Youtube também acha também és arrogante?


Se virem alguns vídeos meus isolados, sim. Já recebi mensagens a dizer que me odiavam nos primeiros vídeos que viram, mas que depois viram um que lhes caiu bem e passaram a gostar: e é assim que eu vou ganhando público. É engraçado porque eu ganho público com os vídeos com menos visualizações, porque são mais pessoais.


Uma miúda enviou-me uma mensagem depois de ver a minha entrevista ao Maluco Beleza. A mensagem dizia: Já vi alguns vídeos teus – acho aquilo horrível – mas vi-te no Maluco Beleza e tive de te enviar mensagem porque mudei a minha opinião sobre ti – ainda assim, continuo a não gostar dos teus vídeos, mas enquanto pessoa és algo totalmente diferente.


Eu percebi que ganho a malta quando não estou a cascar em ninguém.



Se recuarmos um ano, não conhecíamos o Rúben Branco enquanto humorista. Na tua opinião o que impulsionou o teu canal?


O vídeo que impulsionou o meu canal foi uma falta entrevista ao Piruka onde eu manipulei aquilo d forma a que passasse a ideia de que o Piruka perdeu com o HollyHood no beef. Foi o meu primeiro vídeo de hip hop – na altura teve 30 mil views e tinha 2 mil seguidores.



Acho que já falaste de todos os rappers da Think Music. Não há nenhum do qual gostes?


Eu curto Profjam – é o único gajo da Think Music que eu digo que é bom, mas eu nunca vou poder cumprimentar o Profjam porque não sei qual seria a reação dele devido à minha posição relativamente a alguns rappers da Think Music. Mas o meu trabalho está à frente de tudo isto, portanto se eu acho que devo falar de qualquer que seja o artista, eu vou fazê-lo – mesmo sabendo das consequências.


Agora se me perguntas: gostavas de ir ver o Profjam ao vivo? Gostava, mas não posso. A possibilidade de alguém de dar uma mocada é muito grande porque os seguidores deles são fanáticos e o perigo torna-se real.


Mas nada daquilo que eu digo acerca dos artistas da Think Music é pessoal, apenas estou a avaliar o trabalho deles – é uma grande diferença.



Já moraste em Lisboa e agora estás no Norte. Onde é que achas há mais oferta de stand up?


Na zona de Coimbra pra cima à uma quantidade de oferta de bares de comédia impressionante. O problema é que tens de viajar uma hora ou uma hora e meia entre cada bar. O mercado no Norte é muito mais atrativo do que no Centro.



Quais são os conselhos que dás para quem queira enveredar por uma carreira de comediante?


O meu conselho é ir a palco e testar material e depois entrar nas redes com força para conquistares público. Tens de fazer um uma boa gestão entre o palco e as redes sociais – e não te prendas a uma única rede (eu fiz isso com o Youtube), tenta ter uma presença forte em todas as redes.


Entrar nas redes sociais é perigoso se te atirares de cabeça sem uma personagem definida, porque podes acabar por ficar rotulado de uma maneira que não queres e para te livrares disso é muito trabalhoso. Além disso, por vezes a persona que tu crias não vai ao encontro das tuas espectativas, por exemplo, eu entrei no Youtube a tentar ser o novo Nuno Markl e cada vez estou mais parecido com o Rui Sinel de Cordes.


O mais importante é tu seres diferente e trazeres algo para a mesa. Não sejas bolacha maria ou pão com manteiga, porque as pessoas até podem gostar, mas nunca vais chegar a ser um grande prato.

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